Denis Moreira
Quando?
A Constituição Federal declara que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza. Refletindo a cerca da história do negro brasileiro, podemos notar que o racismo sempre existiu e nunca nem chegou perto de se extinguir. E que por vezes não foi praticado só pelos senhores de engenho e comerciantes, mas era objeto comum na sociedade que contava com o apoio dos governantes, leis eugênicas, sem contar os impedimento para terem uma moradia ou ingressar em escolas.
Lancei esta provocação ao criar a obra “Quando?” que inaugura uma placa gravada em latão referente ao dia em que o Brasil, de fato, cumpriu com o que se lê escrito na Constituição em seu Art 3° Inciso IV. Um dos objetivos de tal obra é propiciar uma reflexão a cerca deste assunto tão complexo, e que enxergo uma certa preguiça, pra não dizer falta de caráter pela não discussão deste assunto tão relevante para a maior parcela da população brasileira, os negros.
Uma pesquisa realizada em 2010 no Brasil revelou que 91% dos entrevistados reconheciam que existe preconceito no Brasil, embora somente 3% desses se julguem ser preconceituosos. O racismo é um conjunto de ideias de caráter depreciativo, por meio do qual se inferioriza determinada raça, cultura ou modo de vida. O racista é incapaz de aceitar um pensamento igualitário e repudia certo grupo de pessoas.
Marilena Chauí em “Convite a filosofia”, elenca alguns pontos do qual, uma pessoa racista tenta provar:
a) existem raças;
b) que as raças são biológicas e geneticamente diferentes;
c) que há raças atrasadas e adiantadas, inferiores e superiores;
d) que as raças atrasadas e inferiores não são capazes de desenvolvimento intelectual e estão naturalmente destinadas ao trabalho manual, pois sua razão é muito pequena e não conseguem compreender as ideias mais complexas e avançadas;
e) que as raças adiantadas e superiores estão naturalmente destinadas a dominar o planeta e que, se isso for necessário para seu bem, têm o direito de exterminar as raças atrasadas e inferiores;
f) que, para o bem das raças inferiores e das superiores, deve haver segregação racial (separação dos locais de moradia, de trabalho, de educação, de lazer, etc.), pois a não segregação pode fazer as inferiores arrastarem as superiores para o seu baixo nível, assim como fazer as superiores tentarem inútilmente melhorar o nível das inferiores.
Devido a crença de que o Brasil não é um país racista, se tem poucos casos levados a júri, menor ainda é o número de condenações. Processos que são julgados em sua totalidade por homens brancos, que assim como a polícia, não compreendem o problema racial do Brasil. Sendo assim, antes de fechar este texto, eu não poderia deixar de fazer a derradeira pergunta. Quando iremos acabar com o racismo no Brasil? Quando acabará o preconceito contra origem, raça, sexo, cor, idade ou quaisquer formas de discriminação, quando?
fonte: https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/2652/Igualdade-e-discriminacao
Reencontro
No período da escravidão, o negro se apegou a sua fé nos ancestrais para refazer os laços com sua terra, manter e recriar tradições, construir novos símbolos e famílias como estratégia de sobrevivência, lutando contra o genocídio colonial. A religião foi o centro deste reencontro após a travessia pelo Atlântico, cá no Brasil, os terreiros recuperaram o senso de família daqueles que haviam sido estrategicamente separados de seus entes queridos. As mães e pais de santo são figuras centrais nesta luta. Os cultos, rituais e divindades, apesar das diferentes localidades africanas, foram reunidas e organizadas pelo candomblé, religião que surgiu na Bahia nas primeiras décadas do século XIX com a chegada dos Nagôs. Além disso, estas casas de culto foram responsáveis pela reconstrução da identidade e a manutenção da cultura, filosofia e visão de mundo.
Hoje este reencontro é pretendido por muitos destes negros que não são mais escravizados, mas que desejam conhecer aqueles seres que lhes foram separados a séculos, seus antepassados africanos. O racismo somado ao preconceito, tem raiz nesse desconhecimento de uma identidade. Tem raiz em um apagamento da memória, uma história que merece ser conhecida e contada. A intenção do inimigo é enfraquecer este povo, que a seu modo de ver, irá vagar pelo mundo sem norte, sem descendência, sem nada, e por tanto não luta, não resiste, não é ninguém, diferente do colonizador filho de reis, dono de animais, céu e terra.
Saber o nome de seus antepassados, o lugar de onde veio, tudo isso me faz pensar sobre o meu futuro, me faz ter orgulho da minha história, me faz ter um norte, um caminho. E assim como o samba e a capoeira um dia o fizeram, hoje o candomblé é uma das ferramentas e conexões com nossos antepassados, e se a escravidão nos arrancou a realeza, os orixás nos devolveram. Imaginem um jovem negro morador da zona sul de São Paulo através de um teste de dna que é descendente direto de reis e rainhas do Congo? Como seria se aquela negra que sente vergonha do nariz e do cabelo descobrisse que na verdade ela é descendente direta do império do Zimbabwe, se conhecessem a história de N’zinga e outras rainhas quilombolas, imagina?
fonte: https://theintercept.com/2019/08/15/descobrir-origem-africana/
fonte: https://www.cartacapital.com.br/blogs/dialogos-da-fe/candomble-religiao-de-resistencia/
Tecnologia e corpo
Quando o colonizador foi atrás de mão de obra para erguer seu país ou lucrar com aquele povo, ele não estava de olho somente na força de trabalho. Ao pôr os pés em África, este mesmo colonizador foi seduzido pela genialidade daqueles que criaram uma tecnologia jamais vista. Sua inteligência e habilidade com o manuseio não estavam destinados apenas para as plantações, mas se encontravam também na mineração, em instrumentos climáticos, entre outros campos da vida. O africano contribuiu para o alicerce de muitas cidades no mundo, principalmente na Europa. O eurocentrismo insiste em negar a tecnologia e o favorecimento para o crescimento do país oriundo de um corpo negro. O preconceito vindo de uma pseudo-ciência diminuiu a quase zero a contribuição do africano.
Em termos urbanísticos o Egito precedeu a Europa no traçado das cidades, as bibliotecas da cidade de Timbucto onde hoje se encontra o Mali é uma referência de intelectualidade.
A produção do ferro como na região Bantu foi um grande fator de expansão da população devido a abertura das matas e da melhoria da produção agrícola. Os africanos e suas diásporas contribuíram para diversas descobertas, não só no campo braçal, mas também nas ciências, filosofia, arquitetura, política e arte. Mulheres e homens de origem africana mudaram o rumo da história com suas descobertas. E que saibamos que os negros não entendem somente de esporte, da dança ou do canto, mas estão presentes em diversos campos da sociedade. O corpo negro fala e é uma tecnologia que está em constante evolução, se adequando, progredindo e interage com o mundo ao seu redor. Ele goza de uma genética diferenciada, e quando digo isto, estou me referindo a uma pele com maior resistência, uma estrutura forjada pelo sol, pelo chicote, pela opressão, mas que a todo tempo nos lembra de nossa realeza, pois descendemos dos primeiros seres humanos da terra, e nossa tecnologia está em todos os cantos do mundo, do princípio até hoje.
MACHADO, Dias Carlos. Gênios da humanidade. São Paulo: DBA, 2017.
ARAÚJO, Emanuel, Arte, adorno, design e tecnologia no tempo da escravidão. São Paulo: Via Impressa edições de arte, 2013.
Ogum
Ogum é orixá da guerra, aquele que detém o domínio do ferro, soberano das batalhas e por utilizar o ferro como já dito, ele também se tornou dono da agricultura e da metalurgia. Ogum tem como ferramenta o martelo, a foice, a espada, torquês, pá, picareta, a ferramenta e muitos outros materiais provenientes do ferro. Para os iorubás, os orixás determinam nossas características e temperamentos pessoais. Cada orixá domina um conjunto de forças da natureza que nos influenciam em situações do cotidiano.
Segundo a mitologia africana, Ogum era filho do rei Odudua, fundador da cidade de Ifé. Ogum representava seu pai nas batalhas pela conquista de territórios. Ogum logo se tornou a divindade que inspira atitude e coragem, Ogum é aquele que está a frente de seu tempo, assim como a tecnologia.
A tecnologia gera mudanças, e no panteão africano, aquele que rege os seres no caminho da mudança é Ogum. Quando lemos o significado da palavra avant-garde em Francês que é guarda avançada, podemos dizer que em termos artísticos, modernos ou contemporâneos, dentro os orixás, Ogum é aquele que cabe melhor neste arquétipo, dominador da tecnologia, com sua sabedoria, os caminhos são abertos para novas descobertas, mesmo que o caminho não seja fácil, Ogum enfrenta como um guerreiro, erguendo sua espada de ferro, tendo como futuro sua meta.
fonte: SOUSA, Rainer Gonçalves. "Ogum"; Brasil Escola. Disponível em: ttps://brasilescola.uol.com.br/religiao/ogum.htm
Acesso em 08 de março de 2021
fonte:Pai Paulo de Oxalá. "A importância dos Orixás nas profissões"; Extra Globo. Disponível em: https://extra.globo.com/noticias/religiao-e-fe/pai-paulo-de-oxala/a-importancia-dos-orixas-nas-profissoes-14111874.html Acesso em 08 de março de 2021.
Entre a diversão e o choque
Pode uma bomba de chocolate ferir? Um carro à prova de balas dá proteção a todo tempo? Utilizar-se de uma metralhadora para proteger a nação? Qual é a cor, idade e a região das pessoas que mais sofrem com os altos índices de violência? A arte possibilita elaborar pensamentos e realizar diversas reflexões como estas, mas como discutir este tema em uma sociedade já doente por outros sintomas que vão da desigualdade social à corrupção?
Em 2019, o Ministério Público do Rio de Janeiro começou a investigar onde foi gravado o vídeo que exibia crianças de várias idades brincando de traficantes. As crianças portavam armas e coletes de papelão com inscrições de uma facção criminosa. O vídeo viralizou nas redes sociais e chocou especialistas. Outra notícia que gerou polêmica veio da Inglaterra, onde a princesa Charlotte e o príncipe George brincavam na grama durante um jogo de pólo com uma pistola de brinquedo se divertindo com seus filhos.
Pode a arte chocar mais do que a realidade daqueles que vivem estas metáforas diariamente? Estudos antropológicos mostraram que, tanto em sociedades tribais quanto em países do chamado “Primeiro Mundo”, as crianças sempre enfrentaram e derrotaram seus oponentes com seus superpoderes em duelos imaginários do bem contra o mal. Se a criança não tem revólver, transforma os dedos em arma, se não tem espada, pega um gravetinho e finge que é uma. O que deve ser analisado é o vínculo entre a brincadeira com a realidade e como esta criança está inserida na sociedade.
Isto não é uma arma?!
Em 1929, o artista surrealista belga René Magritte questionou em um dos seus mais famosos trabalhos a veracidade da imagem questionando do que se tratava a realidade. Outro artista que abordou o assunto foi o francês Marcel Duchamp, que por meio de seus Ready Mades se apropriou de objetos do cotidiano transformando-os em obras de arte. Pode nossa imaginação permear vários campos da invenção sem necessariamente darmos concretude para aquilo que é transitório? O mesmo pode acontecer com um brinquedo ou qualquer material existente denotado como bom ou ruim. O que importa nesta relação é o olhar do observador e de quem maneja o objeto, atribuindo-lhe certos signos, que lhe são familiares a depender de suas referências e índices recebidos no meio social em que vive.
Conselho de segurança
A Organização das Nações Unidas (ONU), foi precedida pela Liga das Nações, criada em 28 de julho de 1919 pelo tratado de Versailles após a Segunda Guerra Mundial. Sua finalidade era garantir a segurança mundial e prevenir um novo conflito global, mas falhou ao não evitar a Segunda Guerra Mundial. A ONU foi idealizada em 24 de outubro de 1945, tendo como principais países os vencedores da guerra, o chamado grupo dos aliados, que é constituído por cinco membros permanentes: Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e China. A também outros dez membros eleitos pela Assembléia Geral da ONU, fazendo parte do grupo por dois anos.
Uma resolução do Conselho de Segurança só é aprovada com a maioria de nove dos quinze membros. Apenas um voto negativo de qualquer membro permanente configura veto a resolução. A abstenção de um membro permanente não configura veto. Desta forma, sempre que uma decisão contrária aos interesses de algum dos dos cinco países permanentes aparece e se tem um voto contrário, o projeto é arquivado. O que vemos nesta organização por vezes é o interesse individual de cada país ou de seus parceiros ideológicos sendo priorizados muito mais do que se foi pensado na formação do Conselho. Sendo assim, é quase impossível que os cinco membros permanentes tenham um pensamento em comum. Para que haja alguma mudança nesta estrutura de votação, os países a decidir esta mudança devem abrir mão de benefício próprio.
O Conselho de Segurança reflete o que acontece em escala maior em quase todos os países que fazem parte do seu corpo, seja de forma permanente, seja em mandatos curtos. No Brasil, assim como no Conselho, o poder judiciário, legislativo e executivo não conseguem ter uma uniformidade. E fora deste cerco, a milhões de pessoas que esperam por uma mudança de pensamento e ações daqueles que encabeçam o poder para viverem melhor. Do Conselho de Segurança se espera que seus representantes mantenham a paz, que resolvam qualquer tipo de conflito, dialoguem entre seus pares e resolvam questões de armamento, primando pelo olhar daqueles que estão em estado de guerra. Guerra que significa luta armada entre nações, partidos ou etnias, qualquer combate com ou sem armas, conflitos travados entre os integrantes de um mesmo país, combate a qualquer coisa que se atribua valor nocivo como as drogas.
Sentidos
A principal contribuição de Cesare Lombroso à Criminologia foi a sua abjeta teoria sobre “O Homem Delinquente” desenvolvida no campo da "caracterologia" na tentativa de relacionar a tendência inata de certos indivíduos a um comportamento criminal. A abordagem de Lombroso é descendente direta da “Frenologia” que é o estudo da configuração externa do crânio como indicativo do desenvolvimento da faculdade cerebral e da "fisionomia'', estudo das propriedades mentais a partir da fisionomia do indivíduo. Para ele, o crime era um fenômeno biológico, o criminoso seria um subtipo humano, no qual já teria nascido delinquente. No que tange à fisionomia do homem criminoso, afirmava que tais indivíduos apresentavam mandíbulas volumosas, assimetria facial, orelhas desiguais, falta de barba, pele, olhos e cabelos escuros. Sendo assim, relacionou à figura determinada à criminalidade como seu peso, medidas de crânio, insensibilidade à dor, que poderia ser observada no fato da adoração dos delinquentes pela tatuagem, a falta de moral, o ódio em demasia, a vaidade excessiva, entre outras características. A teoria de Lombroso foi cientificamente desacreditada, mas infelizmente, em meio ao racismo estrutural que nos permeia, parece ter ressurgido ativamente em nossa sociedade.
Pela 1ª Comarca Metropolitana de Curitiba/PR, no último dia 19 de junho, ao condenar um homem - cujo apelido é “Negrinho” - a 14 anos e 2 meses de prisão por integrar uma organização criminosa e praticar furtos, levando em consideração, explicitamente, sua raça. Escreveu a juíza Inês Marchalek Zarpelon na página 107 de sua sentença condenatória no Processo 0017441-07.2018.8.16.0013:
“Sobre sua conduta social nada se sabe. Seguramente integrante do grupo criminoso, em razão da sua raça, agia de forma extremamente discreta os delitos e o seu comportamento, juntamente com os demais, causavam o desassossego e a desesperança da população, pelo que deve ser valorada negativamente”. Em outros dois trechos, nas páginas 109 e 110, a magistrada repete a mesma afirmação ao se referir ao acusado: “Sobre sua conduta social nada se sabe. Seguramente integrante do grupo criminoso, em razão da sua raça.”
Ser um criminoso em razão da sua raça só pode partir de alguém cujo pensamento só se explica fundamentalmente nas teorias criminológicas de Lombroso, parte da concepção de alguém em um cargo público de grande importância, mas que pelo ocorrido, demonstra total despreparo, e que só faz sentido em uma sociedade onde se tem o racismo fortemente enraizado e estruturado. Outro caso envolveu a juíza Lissandra Reis Ceccon, da 5ª Vara Criminal de Campinas, em São Paulo, que condenou um homem de "pele, olhos e cabelos claros" a 30 anos de prisão pelo crime de latrocínio. As características físicas do criminoso foram ressaltadas na sentença assinada pela juíza, porque, segundo ela, não condizem com o "estereótipo padrão de bandido". A observação da magistrada foi feita sob o contexto do sentenciado Klayner Renan Souza Masferrer ter sido "firmemente reconhecido" por uma vítima e uma testemunha de um roubo de carro seguido de tiros que mataram seu condutor.
“A vítima sobrevivente mencionou que realizou o reconhecimento do réu entre outras fotos, entrando o delegado no Facebook do réu, voltou a reconhecê-lo na delegacia e posteriormente em juízo”, diz a juíza Lissandra na sentença . Em juízo, diga-se que o réu foi colocado entre outras pessoas e vítima e a testemunha Maristela em nenhum momento apresentaram qualquer hesitação no reconhecimento. Ao contrário, a testemunha Maristela apresenta um depoimento forte e contundente, dizendo que antes do réu sair da caminhonete a atirar contra seu pai e seu filho, olhou nos olhos dele, não se podendo duvidar que esta filha/mãe jamais o esquecerá”, escreveu.
O caso foi denunciado em 2013 e a sentença assinada em 2016, mas porque esta sentença só foi ganhar notoriedade 3 anos depois do ocorrido? Mesmo que a teoria Lombrosiana tenha sido descartada pela ciência, ela ainda ressoa em pleno século XVI. A verdade é que com o advento das novas mídias, fatos como este estão ganhando cada vez mais espaço pela independência da circulação. Os negros são vigiados por uma violência que por vezes é invisível, por horas é física. E este pensamento persiste quando vamos a diferença entre as ações da policia comparativamente entre negros e brancos, entre bairros como Alphaville e Capão Redondo, um baile funk ma vila Madalena outro em Paraisópolis. Negros rotineiramente ainda são estigmatizados pela sociedade como pobres, ladrões. O cassetete, bastão usado por policiais, simboliza uma agressividade que é utilizada apenas quando se tem um perfil fisiológico Lombrosiano à sua frente.
A forma de atendimento da polícia militar em São Paulo depende muito da camada da sociedade em que ocorrerá a ação ou da classe requisitada. Sua postura, estratégia e desfecho pode tomar diferentes rumos de acordo a característica daqueles que serão abordados. Alguns recebem cacetadas, outros recebem flores! Para alguns o gosto do paladar é de sangue! Para outros, o odor é de rosas perfumadas! E eu lhes pergunto, porque para alguns lindas rosas vermelhas e para outros, flores murchas da morte?
Só o tempo a de plantar justiça, e que nesta colheita, todos possam usufruir dela igualmente.
fonte:https://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2019-03-01/estereotipo-padrao-bandido-juiza.html
Moeda de troca
A negociação entre os colonizadores e os africanos era feita através da troca. Produtos como tecidos, vinhos, cavalos e ferro que era transformado em armas. O produto mais comercializado no Brasil do século XVII era a cachaça. O comércio era triangular, funcionando entre os continentes africanos, europeu e americano que servia para suprir a mão de obra local. Para manter estas trocas, foram construídos portos, cidades e rotas de navegação. Esta produção gerou alto lucro aos comerciantes, fato fundamental para o desenvolvimento do capitalismo nesses países. Os negros cativos eram destinados principalmente para a produção agrícola e para a extração mineral.
O continente africano foi colonizado por diversos países europeus como Inglaterra, Portugal, Espanha, Itália, Alemanha, França e Bélgica, sem contar as invasões holandesas. O escambo foi feito entre os países europeus e africanos. Assim como aconteceu com os indígenas a receber os portugueses e suas caravelas, visando o lucro nesta troca, tendo sempre em mente o ganho, negociando através de armadilhas, o que causou séculos de escravidão e a divisão cultura dentro do continente africano.
A Etiópia negociou por anos com a Itália, conseguiu reforçar seu poderio bélico que, anos mais tarde, ajudou o país africano a resistir ao ataque europeu por conta de suas armas e ocupação numérica. A Libéria por ter recebido vários ex escravizados provenientes dos Estados Unidos da América, foi outro país que não teve sua terra colonizada pelos europeus. Como em uma ratoeira conceitual, estes homens e mulheres eram atraídos por diversos artefatos, acreditando que aquilo era o melhor para eles.
Eugenia
Começarei este texto citando um dos personagens bíblicos que gerou uma das teorias mais absurdas de todos os tempos. Cam é um dos três filhos de Noé, sendo o mais novo dos três, um dos sobreviventes do dilúvio narrado pelo livro Gênesis da Bíblia. A passagem mais significativa sobre Cam na qual me despertou interesse para criar este texto fala da ocasião em que Cam entrou na tenda de pai, Noé. Que ao entrar em sua tenda, Cam o encontra embriagado e nú. Após ter visto a situação em que seu pai estava, Cam saiu da tenda sem ajudar seu pai. Em seguida, Cam caminhou em direção dos seus dois irmãos Sem e Jafé, que trataram de ajudar o pai, cobrindo-o com uma capa. Noé ainda relatou aos seus filhos que Cam ainda zombou dele com seu neto.
Após o ocorrido, Cam foi amaldiçoado e penalizado por não ter ajudado seu pai. Noé profetizou que Cam seria o último dos escravos de seus irmãos. Cam é apontado na bíblia como suposto ascendente das raças africanas. Diante disto, nós séculos XVI, XVII e XVIII, alguns cristãos utilizaram esta passagem para justificar a escravidão nos países africanos colonizados.
Toda esta construção narrativa serve para começarmos a entender o pensamento racista que teve como um dos fundamentos esta passagem bíblica. Saltando alguns séculos, chegamos ao ano de 1885 com a pintura do espanhol Modesto Brocos, A redenção de Cam, pintura criada pós emancipação da escravidão na maioria dos países.
A tela mostra uma espécie de caminho para reverter a “maldição”, um tipo de branqueamento na população como se pode notar em seus personagens. Em seu canto esquerdo, temos uma mulher de idade preta que levanta as mãos aos céus, como se estivesse agradecendo aos deuses por seu neto ter nascido branco pela miscigenação de seu genro branco com sua filha mulata.
Essa obra não se trata apenas de uma eliminação cultural e racial, se trata da necessidade de um progresso que aos olhos dos eugenistas e de Brocos, só viria por meio do embranquecimento da população brasileira se aproximando da cultura europeia.
Na europa, o ideal eugênico foi disseminado pelo inglês Francis Galton, primo de Charles Darwin. O cientista afirmava que a seleção natural também era válida aos seres humanos. Sua crença era de que a capacidade intelectual não é individual e sim hereditária. Além disso, Galton acreditava que comparando os povos africanos, indígenas e asiáticos ao europeu, sua raça era detentora de maior beleza, competência civilizacional e saúde.
A eugenia foi um conceito criado na Inglaterra em 1883 que se difundiu em diversos países, especialmente nos Estados Unidos e na Alemanha. No país norte americano, se determinou no século XIX, as leis antimiscigenação, que proibiam casamentos interraciais, medidas que vigoraram até os anos de 1970. Na alemanha, a eugenia só teve seu enfraquecimento após a Segunda Guerra Mundial com a diminuição do Holocausto e dos crimes de perseguição cometidos pelos nazistas. Principalmente pautado pela eliminação dos judeus.
A função da eugenia era a de criar uma nação mais forte ao aperfeiçoar e fortalecer características físicas, psicológicas e comportamentais dos indivíduos, selecionando quem pode se reproduzir sob o pretexto da melhoria genética. Este foi um conceito que fortaleceu práticas de exclusão de pessoas pobres, de outras etnias e que tivessem alguma característica indesejada a sociedade branca da época.
O Brasil foi um dos primeiros países da América do Sul a criar um movimento eugenista organizado. Em 1918, fundou-se a Sociedade Eugênica de São Paulo, que ganhou na década de 30, principalmente com a criação do Boletim de Eugenia. A eugenia foi tão importante no Brasil que foi colocada no Artigo 138 da Constituição de 1934 como um dos deveres da União, Estados e Municípios a estimular a “educação eugênica" entre jovens e adultos.
Art 138 - Incumbe à União, aos Estados e aos Municípios, nos termos das leis respectivas:
a) assegurar amparo aos desvalidos, criando serviços especializados e animando os serviços sociais, cuja orientação procurarão coordenar;
b) estimular a educação eugênica;
c) amparar a maternidade e à infância;
d) socorrer as famílias de prole numerosa;
e) proteger a juventude contra toda exploração, bem como contra o abandono físico, moral e intelectual;
f) adotar medidas legislativas e administrativas tendentes a restringir a moralidade e a morbidade infantis; e de higiene social, que impeçam a propagação das doenças transmissíveis;
g) cuidar da higiene mental e incentivar a luta contra os venenos sociais.
A todo instante, repetidamente vimos em diversas mídias e discursos, essa teoria eugênica e designação de que o não branco e europeu se trata de um ser inferior. Modesto Brocos expressou na obra “A redenção de Cam”, aquilo que se pensou em toda a estrutura das colonização e pós-abolição brasileira. Pensamento este que permeia a população brasileira principalmente em suas elites.
Repetidamente, teorias com as que lemos neste texto, inflamam esse imaginário excludente que interessa apenas a uma camada da sociedade, o dominador. Fundamentada em uma pseudo-ciência e achismos, contestar e debater sobre tais ideias ainda presentes no Brasil contemporâneo, se faz necessário pela arte ou qualquer outro meio. A Redenção de Cam exprimi aquilo que a sociedade reforça em seu imaginário dia após dia quando se recusa a admitir a imensa lacuna entre negros, indígenas e brancos.
Sobre Quéops, Imhotep e a Frenologia
O filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel afirmou: “A África, na história, ficou reclusa, sem conexão com o resto do mundo, é a terra do ouro, recolhida em si mesma, o país da infância, que além da época da história consciente, está enterrada na escuridão da noite.” Ao ler esta frase, só posso acreditar que existam dois caminhos para formular aquele pensamento. A primeira é de que o pensador sabia do conhecimento tanto dos egípcios, quanto de outros povos africanos nos diversos campos da humanidade. Sendo assim, me inclino a acreditar que propositalmente ele ocultou estes conhecimentos, resumindo a nada. A outra é um total desconhecimento da cultura e história deste povo, rotulando-os a um pensamento primitivo e animalesco.
Uma vez li em um livro uma frase de Malcolm X: “É preciso ter muito cuidado, muito cuidado mesmo, ao apresentar a verdade ao homem preto que nunca antes ouviu a verdade a respeito de si mesmo, de sua espécie e do homem branco”. Não é raro na história, outras culturas se apropriarem da invenção de outras. Citando a medicina, onde todo estudante das ciências médicas cita o grego Hipócrates, sendo que este importante personagem histórico aprendeu medicina no Egito e plagiou diversos ensinamentos, entre eles, o diagnóstico de infertilidade feminina. Se você gosta de cinema, deve ter assistido ao filme “Múmia” do diretor Stephen Sommers, por onde a arte foi utilizada para distorcer fatos históricos africanos colocando Imhotep como vilão, um ser perverso, mesquinho que ressuscita almejando destruir a humanidade.
Imhotep viveu no Egito antigo em (2700-2670 a.C), onde escreveu textos médicos, a ele é creditada a autoria do papiro de Edwin Smith, é a única cópia de parte de um antigo livro egípcio sobre trauma da cirurgia, o mais antigo escrito de literatura médica e mais antigo documento cirúrgico do mundo. Os egípcios criaram os melhores barcos militares e a frota mais veloz da humanidade. A chamada nau de Quéops, com 47 metros de comprimento e datada da Quarta Dinastia (2589 a 2566 a.C.), é a mais antiga embarcação desse porte encontrada até hoje.
Ao longo do século XIX várias teorias racistas tiveram seus desdobramentos (quando milhões foram assassinados nos neocolonialismos promovidos por países europeus. Estudos científicos chamados de Frenologia, em 1820 destacou-se o médico Robert Knox, de Edimburgo (1791-1862), que foi um dos mais importantes cientistas raciais na Inglaterra. Seus estudos preconceituosos de esqueletos, cadáveres e, sobretudo, de crânios, constituem as bases de um novo tipo de racismo. Os não europeus “tido como superiores” possuem os crânios menores, logo, menos cérebro, como consequência, menos inteligentes – daí alguns acreditarem que poderiam ser escravizados, torturados, mutilados e exterminados.
No seu livro "As raças humanas, de Robert Knox em 1840" podem ser constatadas as seguintes afirmações:
“… As raças negras podem ser civilizadas? Eu devo dizer que não… `` ''…A raça saxônica jamais as tolerará, jamais se miscigenaram e jamais viverão em paz. É uma guerra de extermínio…”
No meu modo de ver, a arte é uma das mais potentes ferramentas para quebrar este tipo de pensamento. A existência de um ser superior a outro não é um pensamento excludente que ficou no passado. No Brasil o Racismo é velado, rasteiro, e parte deste preconceito fundamentado neste tipo de teoria referendado por uma falsa ciência. A partir destes estudos, criei uma série de desenhos e pinturas referentes a esta pseudociência, trazendo questões como estas que ainda são referendadas em pleno século XXI.
Metalurgia, Ishango e Vênus Negra
O metal e o ferro têm grande valor nas sociedades africanas, materiais ligados diretamente com os diversos cultos afro, sendo transmitidos e preservados através da oralidade e conhecimento do povo. Foi através da religião que a fundição e forja do ferro foi transmitida para o Brasil.
Foi buscando a valorização deste conhecimento que a obra “Metalurgia” nasceu, para dar luz a este material. A produção de fundição e forja do ferro são tecnologias amplamente difundidas em todo continente africano desde aproximadamente 1300 a 1200 anos antes da era cristã. O ferro tem grande importância na expansão da população devido à abertura das matas e a melhoria da produção agrícola na história do povo Bantu.
E por que não valorizar por meio de uma pintura a calculadora matemática mais antiga do mundo? Este é o “Osso de Ishango”, considerado o artefato mais antigo do mundo com mais de 20.000 anos a.C., proveniente do Congo, divisa com Uganda. Valorizar não só as mãos por trás do objeto, mas sim a mente de um povo brilhante que a criou. Um povo que estava muito à frente do seu tempo, e que mesmo assim são pejorativamente chamados de primitivos, sem cultura, e outros adjetivos. O osso petrificado tem apenas 10 cm de comprimento, com pedaço de quartzo para gravar na ponta. Ele sinaliza a grandiosidade de um povo que contribuiu para o avanço da humanidade muito antes dos chamados civilizadores.
Paralelo a Frenologia e até utilizando muitos de seus argumentos, o chamado “Café Científico”, onde se exibia nativos tanto para estudos quanto para apreciação do público. Ali se tinha tanto pessoas interessadas naquelas formas “exóticas” dos seres que foram levados para ficar a mostra como animais. Pensando neste fato, uma questão surgiu para mim ao refletir sobre este triste período da história, mas que consigo encontrar alguns paralelos com a erotização do negro em tempos atuais.
A animalização do diferente foi uma prática bastante comum, tanto por parte da sociedade burguesa, quanto dos meios científicos e doutores da palavra. A arte tem o poder de desconstruir este viés racista e indigno no qual o povo negro há gerações sofre as conseqüências destas teorias esdrúxulas e inaceitáveis. Teorias que por vezes podemos encontrar no discurso de hipervalorização do corpo e restrição do que é o negro, excluindo seus pensamentos e modos de ser.
Sarah Baartman, uma mulher do povo khoisan, exibida em shows pela Europa talvez seja o exemplo mais famoso. Conhecida como “Vênus hotentote”, Sarah Baartman era servente de uma fazenda de holandeses na Cidade do Cabo, na África do Sul. Persuadida de ir para a Europa, quando chegou ao seu novo destino a mulher descobriu o seu verdadeiro destino, trabalhar como escrava de shows para o enriquecimento do patrão. Sarah foi vendida em 1814, para um francês tendo que se prostituir para sobreviver depois de muito ter sofrido nas mãos do mesmo. A chamada Vênus foi estudada por cientistas seguindo o paradigma da “exuberância” do corpo feminino negro, tido como anormal em relação ao corpo branco.
Conquistador
Foi em 1885, na conferência de Berlim, que um grupo de países europeus, Inglaterra, França, Bélgica, Portugal, Alemanha e Itália, resolveram apossar-se de alguns países do continente africano. Esta conquista se deu pela força das armas ou pela sedução pela troca mercantil. Antes mesmo de iniciarem o processo de invasão e conquista daquelas terras, delegações de cientistas foram averiguar a riqueza da terra daqueles países que estavam em suas miras para serem saqueados. Estes cientistas coletaram dados acerca do potencial mineral, visando extrair as riquezas do subsolo daquelas terras africanas.
Estes países europeus tomaram 90% das terras no continente africano, tendo insucesso apenas na Libéria, país recentemente receptor de escravos libertos dos Estados Unidos e da Etiópia, que resistiu as as investidas realizadas pela Itália em seu processo de invasão. No trabalho intitulado “Conquistador”, o personagem militar de alta patente se mostra através de suas vestes, seus feitos pátrios, considerado herói por suas conquistas. As insígnias em seu peito configuram os países conquistados pelo colonialismo europeu no século XIV.
O traje vazio, remete a fantasmagórica realidade em que vivem os países africanos no pós-colonialismo, guerras entre as diferentes etnias, facções, milícias na África, o tráfico no Brasil, o encarceramento em massa nos Estados Unidos. Sua face é a face da morte, resultado de uma escravidão física, mas que deixou sequêlas no imaginário de suas diásporas. O conquistador é um genocida, desbravador de povos. O fato é que este personagem existiu e ainda ressoa na mente daquele suga a matéria de outros países em pleno século XXI.
Preta e branco
A preta velha que amamenta o filho branco do sinhô, geralmente ganha esse encargo pela impossibilidade da mãe natural não fazê-lo. Geralmente esta incumbência era dada a negras escravizadas que já tinham filhos. Essa prática foi importada da aristocracia européia, comum no Brasil e nas sociedades escravistas da América.
No século XIX, surgiram estudos sobre os riscos da “amamentação cruzada”. Grupos de médicos responsabilizavam as amas de leite pela transmissão de doenças. Estas mulheres passaram a ser perseguidas pela sociedade. Por vezes, estas mulheres pretas deixam de amamentar seus filhos para dar seu leite aos filhos dos seus senhores.
Está pratica de amamentação foi trazido de Portugal para o Brasil, escreveu Gilberto Freyre em Casa Grande e Senzala. “Sem a mãe preta, talvez nem houvesse Brasil. Escolhiam-se as mulheres mais bonitas e limpas para dar de mamar a nhonhô para niná-lo, preparar-lhe a comida e o banho, cuidar-lhe das roupas e contar-lhes histórias. Para as escravizadas, ser mãe preta era a chance de sair da senzala para a casa grande. Por outro lado, a proximidade com os senhores as deixava mais expostas ao abuso sexual.
Vende-se uma boa escrava, moça, com muito bom leite, e sem vício algum na rua S.Bento n. 31. 20
Aluga-se uma ama-de-leite bem sadia e abundante de leite, na ladeira Santo Antonio n.4 em casa de José Luiz de França Pinto.
Precisa se, com urgencia, na rua da Princeza, antiga do Jogo da Bola, n. 6, de uma ama de leite, de bom e abundante leite, captiva ou liberta, Paga-se bom ordenado, mas exige-se a ama sem filho. 22
Offecerem-se duas amas sem filhos com leite bom e abundante. Para vê-las à agencia commercial, rua Piratininga n. 56 – A. 23
Como foi exposto na obra “O jantar”, de 1820 do artista francês Jean-Baptiste Debret, a desigualdade entre negros e brancos está intrinsicamente explicita. Onde sentados à mesa, os sinhozinhos se alimentavam enquanto crianças negras, uma no chão e outra de pé, recebem migalhas da sinhá enquanto sua mãe abana os patrões ao fundo. Mergulhado em circunstâncias inapropriadas, esta mulher preta sofre as consequências por levar o Brasil nas costas, em seu colo e braços firmes. Esta mesma mulher com suas diferenças, vive em uma eterna busca pelo rompimento desse sofrimento aos olhos de um Brasil herdeiro destas práticas abusivas e desiguais.
MAUSS M. Sociologia e antropologia . São Paulo: Cosac Naify, 2003.
CIVILETTI MVP. O cuidado da criança pequena no Brasil escravista. Cad. Pesq. São Paulo. 1991, v(76): 31-40.
FREYRE Giberto. Casa-grande e senzala . 19. ed. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1978.
Esquecimento da memória
Na cosmologia africana, a árvore surge como princípio da conexão entre o mundo sobrenatural e o natural, as árvores baobás são as testemunhas de tempos imemoriais. Em vários terreiros de candomblé da Bahia, estas mesmas árvores são consideradas como locais sagrados com laços de pano amarrados em seus galhos. A árvore simboliza a fecundidade da terra e do céu, elo e cordão umbilical entre o orum e o aiê.
A primeira medida que o conquistador teve após prender homens e mulheres para tornarem seus escravos, foi tentar tirar deles suas crenças, fazer com que eles se esquecessem de seu lar, da sua terra, de seus deuses, de sua cultura, tudo para transformá-lo em objeto de exploração.
A religião foi uma das principais formas de desintegração das tradições africanas em todo o mundo. Estes religiosos temiam que os escravos trouxeram consigo uma maldição proveniente de suas crenças politeístas. Na cidade de Ouidah, na Costa do Benin, foi erguido um memorial chamado a “A porta do não retorno” e a “Árvore do esquecimento”. Homens escravizados tinham que dar nove em torno da árvore, enquanto as mulheres tinham que dar sete. O colonizador escravagista acreditava que dando aquelas voltas, os escravos perderiam sua memória, que eles se esqueceriam do seu passado, suas origens, heranças culturais. Que eles se tornariam seres sem nenhuma vontade de reagir ou se rebelar. Os esforços para a anulação de sua história e cultura não obteriam sucesso, muito menos resultaria na submissão do povo negro. Já no século XV, uma bula papal dava salvo conduto e incentivava o início do período escravista nas Américas. Em 16 de junho de 1452, o papa Nicolau declara ao Rei de Portugal, Afonso V:
“... nós lhe concedemos, por estes presentes documentos, com nossa Autoridade Apostólica, plena e livre permissão de invadir, buscar, capturar e subjugar os sarracenos e pagãos e quaisquer outros incrédulos e inimigos de Cristo, onde quer que estejam, como também seus reinos, ducados, condados, principados e outras propriedades… E reduzir suas pessoas à perpetua escravidão, e apropriar e converter em seu uso e proveito e de seus sucessores, os reis de Portugal, em perpétuo, os supramencionados reinos, ducados, condados, principados e outras propriedades, possessões e bens semelhantes...” Em 8 de janeiro de 1554 estes poderes foram estendidos aos reis da Espanha.
A manutenção da posição social negra à margem da sociedade era fator preponderante entre os grandes monarcas brasileiros, que por intermédio das leis, dificultpu o acesso do negro para deixar a condição de escravizado.
O não acesso à educação, consolidado pela lei complementar a Constituição de 1824, ajudou a criar barreiras para implementar esta condição. “(...) os negros não podiam frequentar escolas, pois eram considerados doentes de moléstias contagiosas”.
Os princípios do movimento eugenista já se faziam presentes nos ideais embranquecedores da população. A Lei no 601, conhecida como “Lei de Terras”, impossibilitava a aquisição de terras por parte de negros livres, pois estabelecia um sistema de “compra e venda” das áreas, vetando a aquisição pelo trabalho, única viável aos negros.
Esta lei facilitava e auxiliava a migração estrangeira europeia para o Brasil, assim como no decreto de 1808 que permitia a concessão de terrenos abandonados ou não cultivados pelos reis de Portugal. Que além de receberem de graça grandes pedaços de terras, recebiam sementes e dinheiro segundo o historiador J.J Chiavenato em “O negro no Brasil”.
A lei do ventre livre de 1871 e a lei do sexagenário de 1885, foram formas de abrandar os prejuízos para os senhores escravistas, sendo que na realidade, ali se deu início ao processo que mais tarde resultaria em um grande número de pessoas vivendo em condições de rua.
Com a lei da vadiagem, as cadeias a partir daquele momento começaram a receber um grande contingente de pessoas pretas graças às proibições referentes à capoeira e o samba. Aquela era uma das primeiras sinalizações do que viria a ser chamado anos mais tarde, o chamado encarceramento em massa.
O próximo passo para dificultar a ascensão do negro no pós-escravidão seria a tentativa de enbraquecimento da população e o aniquilamento do negro com as teses eugenistas. Em 28 de junho de 1890, no Brasil se teve a reabertura para as imigrações, a definir que os negros e asiáticos só poderiam entrar no país com a autorização do Congresso.
A sociedade Eugênica de São Paulo, organizado por Renato Kehl e a Liga da Higiene Mental, que teve também como propagador daqueles ideais eugenistas os sistemas escolares de São Paulo e Rio de Janeiro. Locais onde se compartilhavam o desejo nacionalista de criar aqui uma raça pura e bem desenvolvida, longe da degeneração provocada pela mistura de raças e culturas, longe dos costumes africanos ou indígenas.
O esquecimento da memória, ao decorrer do tempo foi algo planejado e estruturado desde quando se iniciou o processo pós-escravidão. E isto se revela na bandeira branca do Brasil, símbolo nacional hasteado por um galho seco coberto de barro em minha obra. A árvore do esquecimento, ratifica o processo de apagamento de práticas culturais produzidas e plantadas na margem do Atlântico, no Benin, no Brasil ou em qualquer diáspora onde se enraizou a cultura negra.
Cá em terras brasileiras, esta bandeira branca encontrou solo fertil por conta do sangue derramado pelo branco português, que tentou plantar o esquecimento de suas atrocidades, descolorindo uma bandeira tingida de sangue, que se esgota até surgir a ausência de cor, o branco. Mas cá nesta terra, assim como em outros pontos do globo, enquanto se plantam sementes de esquecimento, nascem o dobro de árvores de Baobá, plantada por aqueles que resistem a qualquer tipo de exploração e tentativa de aniquilamento de sua cultura.
NASCIMENTO, Abdias do. Toth I - Pensamento dos Povos Africanos e Afrodescendentes. Brasília: Secretaria Especial de Editoração e Publicações, 1997.
ROMÃO, Tito Lívio Cruz. Sincretismo religioso como estratégia de sobrevivência transnacional e translacional: divindades africanas e santos católicos em tradução. In Múltiplos horizontes da tradução na América Latina, 2018.
BATISTA, Pe. Mauro. Evangelização ou Escravidão? In______ Vida Pastoral n.o 138/1988.
CHIAVENATO, Júlio José. O Negro no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1986.
DUARTE, Paulo de Queiróz. Os Voluntários da Pátria na Guerra do Paraguai. Brasília: Biblioteca do Exército, 1981
SILVA, Martiniano José da. Racismo à Brasileira. São Paulo: Anita Garibaldi, 2009.
DA COSTA, Emília Viotté. A Abolição. São Paulo: Global Editora, 1986.
Prótese, Inteligência artificial e Holograma
Os antigos egípcios inventaram a prótese para os que nasciam com deformidade ou sofriam algum acidente. Em 2007, uma múmia feminina datada entre 1000 e 600 a.C foi encontrado um dedo protético criado a partir de madeira e couro. Haverá uma época em que as próteses estarão fundidas ao corpo, pelo menos é o que projetam os visionários.
Provavelmente você já deve ter assistido algum filme no qual a mente de um ser humano foi transplantada para um robô. De imediato pensei no filme “Eu Robô” do diretor Alex Proyas, com Will Smith como coadjuvante. Se um dia isso acontecer, poderemos ser imortais como pensavam os egípcios em seus cultos e mumificação. Seria a inteligência artificial dos robôs uma forma de garantirmos a eternidade assim como já foi pensado pelos egípcios ao mumificarem seus mortos?
Como lidaremos com a não-morte? Vendo a vida passar holograficamente em nossa frente, tendo a certeza de que não corremos riscos nenhum, doenças ou qualquer tipo de perigos. Nada disso nos impediria assim como a sensação de aproveitarmos o agora não faria mais sentido já que o agora se entende para o sempre a partir desta tecnologia. Deveríamos mesmo repensar se queremos esta tal eternidade em nossas vidas. Pensar até se vale a pena mesmo enfrentar nossa finitude e o desejo de aproveitar o dia de hoje como se não houvesse amanhã.
Os celulares que usamos atualmente, logo deixaram de existir graças aos avanços tecnológicos. Uma pequena pulseira ira permitir que visualizamos um holograma criando uma tela. Quem dera pudéssemos projetar pessoas para nossa realidade, fatos históricos, lembranças que nos empoderem.
Em vários momentos de dificuldade gostaria de bater um papo com Malcolm X e perguntar, ei cara, o que devo fazer? Tenho certeza que ele teria uma resposta na ponta da língua. Em outros momentos de mais reflexão e menos ação gostaria de bater um papo com o doutor King, uma voz mais pacificadora, ou seja, usaria este holograma para buscar forças nas minhas raízes antepassadas. Conhecer Kunta Kinte, Zumbi dos Palmares, faraós egípcios, presenciar o primeiro culto aos orixás, essas seriam algumas das referências a se espelhar por muitos afro descendentes.
Metáforas Negras
Está série de trabalhos nasceu em meio a uma pandemia, o novo Coronavírus. Neste mesmo momento aconteciam protestos pelo sucetivo assassinato de negros em várias partes do mundo como nos Estados Unidos, França e no Brasil. Estas pinturas, fotografias e desenhos surgiram como gritos metafóricos que denunciam palavras pejorativas e racistas. Imagens que retratam vidas que seguem sendo atingidas tanto pelas palavras, quanto pelas balas.
Desde a época em que os africanos foram sequestrados de várias partes do continente, tanto estes homens e mulheres que ajudaram a escrever a histórias dos países em que foram levados, sofrem as consequências destes atos assim como seus filhos e netos da diáspora.
Mas o que levaria ou leva uma pessoa a ter este tipo de conduta ou pensamento? Ser negro era sinônimo de primitivo e tornaria a sociedade atrasada, fora dos moldes civilizatórios do europeu. O fato é que o negro sempre foi visto como ser inferior e perigoso, associado a tudo o que é ruim. A ironia da questão é ter o próprio negro ou pessoas que se posicionam contra o racismo, agindo como veículos inconscientes de disseminação das metáforas negras. O estigma da inferioridade imputa o negro e acaba por influenciá-lo, fazendo com que o próprio ser passe a acreditar nesta suposta inferioridade.
Aposto que você já ouviu falar em expressões como: pé na cozinha, coisa de preto, cabelo duro, denegrir, serviço de preto, inveja branca, humor negro ou cor do pecado. Isto tendo como exemplo apenas algumas das muitas palavras com conotação negativa que são atribuídas aos negros. Palavras utilizadas em nosso vocabulário há muito tempo. Por vezes, de tanto estas palavras serem incorporadas e tidas como “normais”, estas metáforas acabam sendo normalizadas dentro do nosso sistema conceitual, tornando o racismo e o preconceito, uma estrutura que utiliza a linguagem como forma de perpetuação da superioridade do branco com relação ao negro em nossa sociedade.
Kabengele Munanga (1986:15-16) lembra-nos que: na simbologia de cores da civilização europeia, a cor preta representa uma mancha moral e física, a morte e a corrupção, enquanto a branca remete à vida e à pureza. Nesta ordem de ideias, a igreja católica fez do preto a representação do pecado e da maldição divina. Por isso, nas colônias ocidentais da África, mostrou-se Deus como um branco velho de barba e o diabo um moleque preto com chifrinhos e rabinho.
Munanga continua: De acordo com a simbologia de cor, alguns missionários, decepcionados na sua missão de evangelização, pen saram que a recusa dos negros em se converterem ao cristianismo refletia, de fato, sua profunda corrupção e sua natureza pecaminosa. A única possibilidade de "salvar" esse povo tão corrupto era a escravidão. Muitos utilizaram-se de tal argumento para defender e justificar essa instituição. Desse modo não haverá nenhum problema moral entre os europeus dos séculos XVI e XVIII, porque na doutrina cristã o homem não deve temer a escravidão do homem pelo homem, e sim sua submissão às forças do mal.
Por isso, foram instaladas capelas nos navios negreiros para que se batizassem os escravos antes da travessia. Em total desrespeito e flagrante violação à religião dos africanos, a preocupação cristã consistia em salvar as almas e
deixar os corpos morrerem!
Refletindo sobre as palavras relatadas acima de Munanga, o preconceito embutido nas metáforas, perpetua esta consideração em que coloca o negro como ser inferior ao branco.Para reforçar este tipo de pensamento. Percebam como o negro é representado em um manual para artistas criado por Montabert.
O branco é símbolo da divindade ou de Deus.
O negro é o símbolo do espírito do mal e do demônio.
O branco é símbolo da luz…
O negro é símbolo das trevas, e as trevas exprimem simbolicamente o mal.
O branco é o emblema da harmonia.
O negro, o emblema do caos.
O branco significa a beleza suprema.
O negro a feiúra.
O branco significa a perfeição.
O negro significa o vicio.
O branco é o símbolo da inocência.
O negro, da culpabilidade, do pecado ou da degradação moral.
O branco, cor sublime, indica a felicidade.
O negro, cor nefasta, indica a tristeza.
Vejamos o significado de negro no dicionário.
Substantivo masculino:cor escura que se assemelha à cor do carvão
Indivíduo com a pele escura pelo excesso de pigmentação
Adjetivo: falta completa de cor por não ser capaz de refletir a luz
Cuja coloração é escura
Que expressa uma cor cinzenta e escura
Física: que absorve todos os tipos de radiações
Pejorativo: que anuncia adversidades ou infortúnios
Ótica: diz-se do que recebe luz, mas é incapaz de a refletir
Etimologia: do latim niger.gra.grum
Sinônimos de negro: preto, escuro, funesto
Antônimos de negro: alvo, claro, branco
Como disse no começo deste texto, estes escritos e a série de trabalhos que nasceram em meio a uma pandemia, neste período, relações entre as pessoas foram modificadas, as desigualdades ficaram ainda mais perceptíveis e o racismo que assola nossa sociedade ganhou ainda mais notoriedade depois da morte do afro americano George Floyd. Caso que levou a uma centena de protestos pelo mundo, inclusive no Brasil.
Não tenho como pretensão mudar o mundo a partir destas pinturas e nem por meio destes escritos, mas creio que sirva de caminho ou alerta. Um grito para que os racistas e simpatizantes destas metáforas vejam que a coisa é séria e não estamos de brincadeira. Devemos e podemos quebrar esta estrutura racista, brancos e negros em igualdade e respeito. Através do simples ato de termos mais atenção com a palavra com o outro.Talvez esta sensibilidade também desperte o respeito com aquela pessoa de cor diferente da sua.
Oceano
O tráfico negreiro iniciou-se no Brasil pela necessidade contínua de mão de obra escrava e foi resultado direto da diminuição do número de escravos e indígenas. Os donos dos navios negreiros viam os escravizados como uma carga que deveria ser transportada para a América da maneira mais rapido e barata, para serem vendidos nas lavouras de café, tabaco, cacau, açúcar e algodão, nas minas de ouro e prata, campos de arroz, na indústria de construção, corte de madeira ou como empregados domésticos. A mão do negro no desenvolvimento do mundo está empregado em várias áreas.
Os africanos obtidos para a escravidão eram prisioneiros de guerra revendidos ou eram capturados em emboscadas elaboradas pelos traficantes. A viagem transatlântica variou amplamente de um a seis meses. Os escravizados eram alimentados com feijão, milho, inhame, arroz e óleo de palma. Em condições precárias, muitos deles eram alimentados com uma refeição com água por dia. Muitos deles morreram no trajeto por doenças infecciosas.
Homens e mulheres eram tidos como cargas, seres menos importantes do que animais. Mulheres com crianças não eram desejáveis por ocuparem muito espaço, e mesmo com todas estas dificuldades, os escravizados resistiam de vários maneiras, seja na recusa de se alimentar, ou cometendo suicídio. O oceano atlântico que liga a África ao Brasil faz com que estes povos estejam ligados de várias formas simbólicas e significados. Aquelas águas negras ainda estão presentes no imaginário de cada um de nós por constituir um elo que vai desta até o pós-vida. Por conta do grande número de homens e mulheres que se jogavam ao mar, em busca da liberdade e reencontro com seus ancestrais, aquele mesmo oceano fez e faz com que nós nos tornemos um só.
Negro escravizando negro?
O desenvolvimento do tráfico negreiro no Brasil se deu por vários motivos, há quem diga que o negro foi facilmente vencido, e pouco combatente, agindo diferente dos indígenas que não se entregaram. Outros dizem que foi o próprio negro foi quem começou este processo de escrvaidão. A verdade é que com a instalação da produção açucareira, em meados do século XV, o tráfico teve relação direta com a necessidade por trabalhadores de engenho, com a qual se deu pela diminuição da mão de obra indígena.
Os índios foram os primeiros escravizados no Brasil, mas o fato biológico, fez com que muitos índios pegassem doenças trazidas pelos portugueses, como a varíola. Foi então que os portugueses começaram a pensar em uma outra alternativa, ainda mais que a igreja se pos contra a escravidão contra os indigenas acreditando que eles ainda poderiam ter suas almas salvas pela conversão.
O tráfico negreiro foi altamente lucrativo pela questão de compra e venda dos negros, que eram realizadas graças a emboscada nos litorais africanos, ao qual, alguns comerciantes mantinham relações diplomáticas com povoados africanos, que permitiram a comercialização dos negros prisioneiros de guerra. Ou seja, o homem não escravizado o proprio negro, e sim há um inimigo, a quem ele não enxergava como irmão, mas como rival.
Percebendo a possibilidade de ganho ao notar o alto ganho lucrativo com o tráfico, outras nações européias começaram a se interessar pela compra e venda de seres humanos, e diferentemente do que se fazia nos povoados, o homem branco destinou a sua peça, um destino pior do que há um animal selvagem. Nos portos, os africanos prisioneiros eram trocados por alguma mercadorias valiosas, que poderiam ser tabaco, cachaça, pólvora, entre outros. O Brasil recebeu aproximadamente 4,8 milhões de africanos escravizados durante três séculos de tráfico.
ALENCASTRO, Felipe. África, números do tráfico atlântico. In.: SCHWARCZ, Lilia Moritz
GOMES, Flávio (orgs.). Dicionário da escravidão e liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2018, p. 60.
FERREIRA, Roquinaldo. África durante o comércio negreiro. In.: SCHWARCZ, Lilia Moritz
Representatividade e lugar de fala
Por anos o padrão de beleza a ser considerado pelo mundo capitalista era o jeito eurocêntrico de ser e existir. Principalmente o homem e cabelo loiro e nariz afinado. Fato que culminou em uma tentativa de branqueamento da população negra para se encaixar nesse modelo de “ideal”. Podemos citar o lábio, cabelo e nariz como algumas das principais diferenças. Nossas crenças a todo o momento são colocadas em questionamento se comparada com as religiões cristãs. Torna-se muito difícil conviver com um corpo tido como feio, um cabelo por definição “ruim” e os lábios denominados de beiços.
Desta forma, criei a série de trabalhos intitulada “Antes, Durante e Depois” para sinalizar as personalidades oriundas da gênese africana, assim como as diásporas que contribuíram de forma significativa para o mundo com suas tecnologias e diversificado conhecimento. Dar corpo às contribuições e representações deste ideal, onde cada uma tem uma história que inspira a auto-estima e aceitação. Em plena contemporaneidade, há um desejo de criar e levar representatividade à população pouco representada.
O objetivo não está somente em nos situar das geniais invenções que criamos antes mesmo de Cristo, mas sim, construir uma rede de empoderamento e conhecimento sobre nós mesmos em diversas áreas como política, arte, na sociedade em geral. Pessoas e situações nas quais devemos nos inspirar e ter um ponto de partida para podermos chegar a um lugar almejado, nos sentirmos pertencentes, fortes e confiantes no mundo.